sexta-feira, 24 de julho de 2009

Sobre ser Igreja, Estar Igreja e Outras Variantes Gramaticais


Tenho a impressão de que a forma que as pessoas utilizam determinadas palavras em seus discursos expressa muito do que elas pensam sobre esse termo. Jacques Derrida, um dos filósofos da chamada pós-modernidade, nega que a linguagem tenha um significado fixo relacionado a uma realidade fixa ou que ela desvele uma realidade definitiva. Dentro dessa perspectiva a palavra falada está intimamente ligada a sua fonte.

Ora, nessa perspectiva linguística percebemos como o termo "Igreja" é utilizado de formas tão variadas e contém significados totalmente díspares entre pessoas que compartilham do mesmo ambiente social.

Quando "vamos à igreja", a Igreja se torna mero objeto indireto, e quando fazemos uma campanha para "construirmos uma nova igreja" ela se torna objeto direto. Nessas visões a Igreja é vulgarmente isso: um objeto de nosso capricho e desejos sórdidos em dominar algo do qual não temos controle.

Porém quando "somos a Igreja" ela se torna predicado e quando a "Igreja somos nós" aí sim ela é sujeito. Sujeito esse que consequentemente necessita de um verbo para completar essa oração.
A grande questão é que em nosso jogos linguísticos achamos que estamos falando da mesma coisa, mas o diálogo torna-se impossível porque enquanto uns são sujeitos de suas ações e de suas existências outros apenas tornam suas ações objetos de seus egos inflados.

Enquanto não se compreender essas diferenças linguísticas sempre será impossível ser Igreja sem ir a igreja, será incompreensível estar Igreja sem pregar igreja. O discurso nesse caso volta a ser católico medieval, extra ecclesia nulla salus, fora da igreja não há salvação; e sendo discurso é sempre escravo da linguagem e de seus signos.

Mais do que a nova reforma ortográfica da língua portuguesa torna-se necessário a reforma gramatical dos conceitos eclesiais e a reforma de pessoas que teimam em serem prisioneiras da Letra que mata em vez de livres no Espírito que vivifica e santifica a Igreja.

William Koppe, no blog http://www.williamkoppe.blogspot.com/

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