terça-feira, 22 de dezembro de 2009

No mundo passais por aflições


[...] quem não valoriza os bens terrenos precisa estar preparado para ser tratado como louco. Isso também acontece quando escapamos das ilusões da respeitabilidade e deixamos de ser controlados pelas opiniões dos outros, embora continuemos a respeitá-los no amor. Afinal de contas, entre as "Bem -aventuranças" do mundo estão: "Bem-aventurados vós os ricos" e "Bem-aventurados sois quando todos vos louvarem" (Lc 6:24-26).
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Assim Jesus disse aos seus alunos que o "mundo" os odiaria (Jo 15:19). Tenho certeza de que eles devem ter ficado bem chocados com isso, como ficaram diante da rejeição e assassinato do seu mestre pelo "sistema" da época. O "mundo" (kosmos), segundo o uso comum dessa palavra no Novo Testamento, não se refere ao planeta Terra e à realidade física, mas ao desenvolvimento histórico da organização das capacidades humanas naturais nas estruturas sociais e culturais em que todos devemos viver. Não se refere às pessoas em si. É claro que Jesus era muito amado por multidões de pessoas como também o foram os seus seguidores imediatos e posteriores. Mas assim mesmo foram assassinados. E isso não é raro hoje.

A Holanda do século XVI proscreveu os menonitas que, quando apanhados, muitas vezes eram executados. Um deles, Dirk Willens, estava sendo perseguido num campo de gelo quando o seu perseguidor rompeu a crosta de gelo e caiu na água. Ouvindo os gritos de socorro, Willens voltou e o salvou das águas. O perseguidor ficou grato e surpreso diante desse ato, mas assim mesmo o prendeu, como julgava ser o seu dever. Poucos dias depois Willens foi queimado na fogueira na ciade de Asperen. Foi justamente o fato de ele ter imitado a Cristo que provocou a sua execução.

Portanto, é importante deixar claro, ao chegar ao final deste capítulo, que aquele que se reveste do caráter do Autor da vida não está isento dos problemas habituais da vida, e além deles terá os problemas que procedem da "não conformidade" e de ser incapaz de concordar com a ordem mundial, nova ou antiga. Isso, não raro, significará morte, prisão, exclusão da economia ou do sistema educacional, etc. Todas essas coisas aconteceram seguidamente na nossa história.

De fato, diz-se hoje que mais cristãos morreram como mártires no século XX do que em todo o período que vai do início do cristianismo até 1900. O segmento "ocidental" da igreja hoje vive numa bolha de ilusão histórica acerca do significado do discipulado e do evangelho. Somo dominados pelos valores essencialmente iluministas que regem a cultura americana: busca da felicidade, irrestrita liberdade de escolha, desdém da autoridade. Os resultados são os evangelhos da prosperidade, as teologias da libertação e a confortável sensação de "saber o sentido da vida" que ilude a mente da maior parte dos devotos cristãos nos nossos círculos. Como é diferente a incisiva declaração de Tiago: "A amizade do mundo (kosmous) é inimiga de Deus" (Tg 4:4). E de João: "Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele" (1Jo 2:15)!

Consequentemente, quando falamos de libertação da dependência da reputação e das riquezas materiais, não estamos sugerindo um triunfalismo fácil. De fato, virão momentos em que não teremos nem amigos nem riquezas de cuja dependência precisemos nos libertar. E está precisamente aqui o ponto nevrálgico. Nessa situação não nos deixaremos perturbar. A vida é dura neste mundo, e também para os discípulos de Jesus. No seu "Discurso de Formatura", como talvez devamos denominar João 14 - 16, Jesus diz claramente aos seus angustiados amigos: "No mundo (kosmou) passais por aflições". E isso não é negado, mas transcendido, quando ele acrescenta: "Mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (16:33). "Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra" (Sl 34:19).

Dallas Willard em A Conspiração Divina

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